Para Caio Camargo, especialista em inovação no varejo, a inteligência artificial deve virar uma camada invisível da operação, conectando precificação, manutenção, marketing e atendimento em tempo real
Uma pesquisa realizada em 2024 apontou que 72% das empresas do mundo já adotaram uma tecnologia de inteligência artificial (IA). Já outro estudo, também do ano passado, revelou que mais de 60% das empresas ampliaram os gastos com IA. No entanto, muitos empresários ainda veem a IA como algo distante ou complexo. Qual seria a melhor forma de desmistificar o tema? Para Caio Camargo, especialista em inovação no varejo, a IA deve virar uma camada invisível da operação, conectando precificação, manutenção, marketing e atendimento em tempo real. E, segundo ele, a melhor forma de quebrar esse gelo é mostrar a IA em ação em problemas do dia a dia da empresa. “Quando o moteleiro vê um chatbot resolvendo dúvidas às três da manhã, ou um motor de preços ajustando tarifas sem que ele mexa um dedo, a “caixa preta” vira chave de fenda: simples, útil e mensurável”, explica Caio, que é um dos apresentadores do [varejocast] e LinkedIn Top Voice em varejo. Confira o bate-papo!
Muitos empresários ainda veem IA como algo distante ou complexo. Qual seria a melhor forma de desmistificar esse tema?
A melhor forma de quebrar esse gelo é mostrar a IA em ação em problemas do dia a dia. Quando o moteleiro vê um chatbot resolvendo dúvidas às três da manhã, ou um motor de preços ajustando tarifas sem que ele mexa um dedo, a “caixa preta” vira chave de fenda: simples, útil e mensurável. Meu convite é sempre pedir à equipe que liste tarefas repetitivas e, depois, pesquisar ferramentas de IA exatamente para essas tarefas. O segredo está em pensar em otimizar “processos”, tarefas cotidianas. Quando a gente começa a utilizar da maneira correta, o tema deixa de ser abstrato na hora em que a primeira métrica melhora.
Quais os primeiros passos para quem quer começar a usar IA no seu negócio?
O primeiro passo é começar a utilizar quaisquer uma das ferramentas que se tem hoje à disposição. São muitas, que podem parecer diferentes no começo, mas com entregas similares, principalmente nas tarefas mais simples. Então não é questão de ser melhor ou pior, mas encontrar primeiramente a ferramenta de IA que você mais goste ou com a qual prefira trabalhar. Para resolver as questões, comece entendendo a dor. Defina qual indicador você quer mexer (taxa de ocupação, tempo de resposta, ticket médio). Depois, verifique se já existe dado suficiente para alimentar uma solução: planilhas de reservas, chats, CRM. Escolha um piloto com meta clara — por exemplo, “subir 8% nas vendas diretas em 90 dias”. E, durante o piloto, envolva a equipe: cada check in é um pequeno laboratório que ensina rápido e custa pouco.
De que forma a IA pode ajudar diretamente a aumentar as vendas em áreas como a de hospitalidade?
Ferramentas de chatbot que funcionam no esquema 24/7 transformam visitantes curiosos em reservas com conversas em português, espanhol ou inglês em segundos. Motores de precificação dinâmica afinam o preço como quem ajusta o volume do rádio, evitando quartos ociosos. E as recomendações preditivas entendem hábitos — se o hóspede costuma pedir espumante às 23h, a oferta chega antes que ele pense. Resultado: mais upsell [técnica de vendas usada para aumentar o ticket médio dos clientes por meio do oferecimento de uma opção mais completa, atual ou maior, de um produto ou serviço que o consumidor já ia comprar ou já havia comprado], menos fricção.
Implementar IA exige mudanças na cultura do negócio?
A IA não sobrevive em empresas que tratam dados como “departamento” separado. É preciso cultivar três hábitos: dados sempre atualizados, permissão para testar e errar pouco, e a ideia de “dia um” permanente, ou seja, o projeto nunca termina, só evolui. Líder que celebra aprendizado, não apenas acerto final, cria terreno fértil para a IA florescer.
Para o moteleiro que nunca usou IA em sua operação, por onde pode começar?
Para marketing e campanhas, o próprio ChatGPT ou Gemini rascunha textos em segundos. No atendimento, algumas ferramentas podem plugar no site e/ou no WhatsApp, facilitando a comunicação, e há ferramentas desde as mais robustas a ferramentas simples e acessíveis, muitas vezes oferecidas por startups. Quer algo ainda mais simples? Use respostas automáticas do Instagram treinadas com as perguntas mais comuns. E, para pagamentos, vale buscar ferramentas com IA antifraude embutidas, reduzindo o chargeback.
Como você vê o papel da IA nos negócios nos próximos anos?
Em minha opinião, a IA hoje já é como a Internet. Ninguém mais fala em se conectar, pois estamos sempre conectados. Com a IA é igual: ela é cada vez mais presente e ao mesmo tempo menos perceptível no nosso cotidiano. A IA deve virar uma camada invisível da operação, conectando precificação, manutenção, marketing e atendimento em tempo real. Empresas que entenderem essa orquestra terão eficiência parecida com o que o streaming fez ao entretenimento. Quem demorar a agir corre o risco de virar locadora de DVD em uma era de conteúdo sob demanda.