Muita gente acredita que aviação e motelaria pertencem a universos completamente diferentes. Mas, para mim, sempre existiram mais pontos de conexão do que se imagina. Passei anos dentro de uma cabine, vivendo entre céus, horários precisos, protocolos rígidos e decisões rápidas, sempre com a responsabilidade de entregar uma experiência segura, confortável e inesquecível a cada passageiro.
Foi justamente essa bagagem que levei comigo quando decidi fazer a maior mudança de rota da minha vida em maio deste ano: comprar um motel com 50 anos de história e reformá-lo do zero.
Porque comprei um motel
Quando surgiu a oportunidade, esbarrei em um sonho que eu nem sabia que tinha. A chance de unir tudo aquilo que sempre amei — criar experiências, inovar, pensar em detalhes — com uma função de gestão, procedimentos e análises. Sempre fui movido por inovação desde criança.
Assim como um piloto precisa conhecer rotas, sistemas, clima e performance, eu precisei aprender tudo sobre o universo moteleiro: limpeza, enxoval, manutenção, atendimento, segurança, fluxo, equipe, custos, tecnologia e, claro, experiência do cliente. Visitei motéis que são referência, conheci empresários que passei a admirar e me inspirar, visitei feiras. Foi uma jornada de aprendizados mágica!
A aviação me ensinou disciplina, atenção extrema aos detalhes, compromisso com a experiência do passageiro e amor pelo novo. E foi exatamente isso que trouxe para o The Eye Motel.
Do cockpit ao check-in de motel
Quando entrei no The Eye pela primeira vez (que não passava por uma reforma há 20 anos), antes da reforma, senti como se estivesse diante de uma pista completamente em branco. Um espaço sem rotas definidas, pronto para receber tudo o que aprendi voando pelo mundo e tudo o que eu sonhava construir em terra firme.
Mergulhei de corpo e alma no projeto. Cada detalhe, suíte e ideia nasceu da vontade de transformar aquele motel em algo único, imersivo, cheio de identidade. Eu não queria apenas criar hospedagens; queria criar destinos.
Foi assim que transformei minhas memórias de piloto em suítes inspiradas pelos lugares que marcaram minha vida: Paris e sua luz eterna; Alaska e seu silêncio gelado; Las Vegas e seu exagero sem pudor; São Paulo e sua energia que nunca para; Rio de Janeiro e sua alma vibrante; Cannes e sua elegância cinematográfica.
Cada suíte que projetei no The Eye é uma viagem. Cada ambiente, um pedacinho do mundo dentro de um quarto.
Ser moteleiro é como pilotar no escuro
Devo dizer que a rotina de um moteleiro não tem glamour. É cheia de desafios invisíveis. As decisões precisam ser rápidas e calculadas e, assim como na aviação, um pequeno erro pode comprometer toda a operação. Liderança, frieza e visão contam mais do que qualquer outra coisa.
Minha experiência me diz que ser moteleiro é, muitas vezes, como pilotar no escuro: precisamos confiar nos instrumentos, nos processos e na capacidade de improvisar quando o inesperado acontece.
Tem dias em que estou resolvendo problemas estruturais; em outros, lidando com enxoval desaparecido, treinando equipe, revisando cardápio, atendendo fornecedores e até apagando incêndios, às vezes, literalmente.
É uma operação 24 horas que não dorme, muito parecida com o ritmo de um aeroporto em movimento constante.
Bastidores que viralizam
No começo da reforma, com o The Eye e minha nova rotina, surgiu a ideia de compartilhar os bastidores da reforma e do dia a dia nas redes sociais. Tudo começou de forma espontânea e, de repente, se tornou um sucesso: hoje já são mais de 100 mil seguidores — os “motelovers”, como eu os chamo carinhosamente —, e milhões de visualizações nos mais de 40 vídeos que já publiquei até o momento mostrando essa jornada.
Se você é apaixonado por motéis ou tem curiosidade sobre bastidores e reformas, convido você a acompanhar tudo nos perfis @igpedroramalho e @theeyemotel, no Instagram.
Quero dizer que, ao olhar para tudo que construí na minha vida, percebo que apenas mudei de pista, mas não de essência. Continuo guiando pessoas por jornadas, agora dentro das suítes do motel.
E, apesar de parecerem mundos distantes, pilotar e ser moteleiro têm algo em comum: ambos exigem coragem para decolar e responsabilidade para pousar. E eu decidi voar mais alto do que nunca!
